Fechar

Notícia
Ver todas as notícias

Carnes: alta do custo de produção deve levar indústria a reajustar preço

 

A alta das cotações do milho e da soja pressiona o custo de produção da indústria de carnes, que neste segundo semestre pode rever os planos de confinamentos e reajustar os preços dos produtos no atacado. No caso da pecuária de corte, os insumos mais caros devem comprometer o segundo turno de confinamento de bovinos, reduzindo o número de animais criados em regime de engorda intensiva.
 
As criações de frangos e suínos são as mais afetadas pela alta dos preços dos grãos, mas os criadores podem ajustar a escala de produção, por serem atividades de ciclos mais curtos. Em função do novo cenário, a tendência é de redução no alojamento nas granjas e na produção de matrizes. Uma alternativa, que seria o repasse na venda do produto final, esbarra na demanda, que em época de crise tende a se enfraquecer, com troca por proteínas mais baratas. José Vicente Ferraz, diretor técnico da consultoria Informa Economics FNP, explica que o repasse da alta das cotações das matérias-primas aos preços finais é imediato nos derivados primários, como óleos, fubá e farelos.
 
No caso dos produtos processados, como carnes e lácteos, leva mais tempo, “porque depende dos estoques de grãos nas indústrias". Eventuais repasses poderão ocorrer, na visão do analista, a partir de outubro, caso o cenário de alta dos preços dos insumos prevaleça. Um aspecto que deve ser observado é que a demanda por carnes fica mais aquecida nos últimos meses do ano, o que em tese favorece um possível reajuste de preços do produto final. O consumo cresce devido às festas de final do ano e ao recebimento do décimo terceiro salário e de eventuais bonificações.
 
O zootecnista e analista da Scot Consultoria, Alex Santos Lopes da Silva, explica que a alta das cotações do boi gordo e da carne bovina se dá em novembro e dezembro, período de transição entre o término da entressafra e o início do período das águas. O especialista da Scot lembra que em novembro do ano passado o boi casado chegou a ser negociado no atacado por R$ 6,71/quilo, o maior preço do ano. No segundo semestre de 2011, entre julho e novembro, a alta desta peça foi de 11%. Ele diz que é difícil prever a que ponto a carne bovina irá se valorizar neste ano. “Temos que ponderar que o confinamento, segundo as expectativas iniciais, deve crescer, embora precise ser revisto o nível de crescimento, devido a algumas desistências de produtores no segundo turno", afirmou Silva.
 
Os criadores que usam o sistema de engorda no segundo turno compram o boi gordo e a dieta geralmente a partir de junho/julho e os animais são vendidos em outubro e novembro. No caso dos bois de confinamento, a alimentação representa de 25% a 30% do total do custo operacional da atividade, incluindo a aquisição do boi magro. "A alta dos insumos e a queda das cotações futuras da arroba têm preocupado os confinadores. Antes tínhamos uma perspectiva boa para a oferta de animais nesse sistema intensivo. Agora, a expectativa não é das melhores", afirma o presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), Eduardo Alves de Moura. A associação ainda não revisou a estimativa de crescimento de 13% a 15% no plantel de animais confinados neste ano, mas já conta com um porcentual menor, devido a uma "quebra" de oferta de animais de segundo turno. "O confinamento especulativo - que inclui a compra do boi magro, confinamento, travamento de preço/venda no mercado futuro - não vai acontecer nesse segundo turno. Temos duas alternativas: ou confinar com uma margem bem apertada ou não confinar e colaborarmos para uma restrição de oferta e, consequentemente, aumentos de preços da carne", diz Moura, ressaltando que a arroba no patamar dos R$ 100 para esses meses seria o ideal mesmo diante de uma alta dos insumos. Atualmente, os contratos com vencimento em outubro e novembro apontam valores entre R$ 96 e R$ 97/arroba.

Frango e suínos - Já na produção de aves e suínos, a alimentação representa cerca de 70% do total do custo operacional das atividades. "O impacto da alta dos insumos nos custos de produção dessas proteínas é praticamente direto. Ainda não temos um repasse nos preços finais, porque a demanda está crítica - mais para suínos do que para frangos - e o preço da carne bovina está em queda. Mas podemos ver no curto prazo uma redução de alojamentos e matrizes, para equilibrar a relação oferta-demanda", explica o engenheiro agrônomo e analista da MB Agro, César de Castro Alves.
 
Devido ao ciclo de produção mais curto do que o de bovinos, neste final do ano deve haver uma oferta menor de carne de frango e suínos ante a uma demanda aquecida por causa das comemorações do período. Assim como na cadeia de bovinos, o desequilíbrio proporcionaria um aumento de preços das proteínas nos últimos meses do ano. "O cenário está bem perigoso para os preços das carnes no segundo semestre. Há espaço para o repasse de custos nos valores vendidos ao consumidor, mas neste ano há um limitador: o cenário mais apertado de demanda", ressalta Alves, da MB Agro. Segundo ele, no mercado interno há um endividamento muito alto do consumidor e no mercado externo, uma queda de demanda por conta da crise. "Alguma pressão inflacionária é inevitável, mas essa vai ser mais contida do que a dos anos anteriores", completa Ferraz, da Informa Economics FNP. 
 


Fonte: Agência Estado SP – 27/07/2012
Data: 31/07/2012 15:06



Compartilhe: Twitter Facebook



Comente





Leilões Oficiais