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Quanto vale a experiência no agronegócio?
Quanto vale a experiência no agronegócio?
André Locateli*
Marcos Pertegato**
Os relatórios e estudos socioeconômicos nacionais e mundiais, divulgados periodicamente, parecem ser unânimes em estabelecer tendências de crescimento populacional, melhoria de renda média (em especial nos países em desenvolvimento) e elevação dos níveis de exigência quanto à informação e qualidade dos alimentos.
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) dentro de alguns anos, o Brasil será responsável por produzir 40% da demanda mundial de alimentos. Este número somente confirma as perspectivas positivas para o agronegócio brasileiro. É quase impossível encontrar outro lugar no mundo que, simultaneamente, disponha de área, condições climáticas, mão de obra, conhecimento e aptidão técnica para a produção de alimentos com qualidade, e em quantidade suficiente para alimentar a crescente população do planeta.
Mas como diz o dito popular, “não existe almoço grátis”. A colheita dos bons frutos que se anunciam depende da quebra de paradigmas e do enfrentamento de alguns desafios. Não vamos entrar aqui no mérito das questões jurídicas, ambientais e políticas que precisam ser solucionadas para que o setor produtivo tenha plena segurança para investir e produzir. Fica apenas o lembrete de que devemos cobrar o posicionamento claro e incisivo de nossas lideranças.
Vamos abordar um ponto fundamental para o setor: o reconhecimento da soberania do mercado. Enquanto na atividade agrícola esta questão parece já ser tratada como fato, na pecuária ainda encontra-se resistência por parte dos produtores em aceitarem sua posição de meros tomadores de preço da mercadoria que produzem. Pode não ser o que se deseja, mas é a realidade.
Aceitando tal situação, aqueles que ainda não notaram, naturalmente perceberão que o segredo de seu sucesso, ou pelo menos, a parte sob a qual se consegue manipular e ter domínio, está dentro da porteira da propriedade. Obviamente, não estamos dizendo aqui que o produtor deve viver alienado, olhando somente para a própria botina. É preciso ver, “sentir o cheiro”, entender o que ocorre do lado de fora (entenda-se no mercado consumidor) para direcionar e dimensionar a produção, mas o maior gasto de energia deve ser empenhado na implantação e execução de ações de melhorias internas.
Marcos Jank e André Pessoa, sócios diretores da Agroconsult e do Agro.Icone, em artigo publicado recentemente, afirmaram que o principal vetor de crescimento do agronegócio brasileiro nos últimos anos, tem sido a combinação da boa gestão e dos ganhos de escala na produção.
Pontuaram ainda que a condução da atividade em condições tropicais exige conhecimentos aprofundados de gerenciamento e governança; e que o enfrentamento dos cerrados (tipo de vegetação predominante na maioria das regiões produtoras do país) exige maior capacidade operacional para lidar com instabilidades climáticas, solos pobres e ácidos, enorme diversidade de pragas e doenças. Não sendo, portanto, negócio para amadores ou aventureiros. Segundo os consultores, nunca esteve tão claro que a boa gestão e a escala de produção são elementos fundamentais para o sucesso da atividade agropecuária no país.
Vale lembrar aqui que este ganho de escala pode se dar de diferentes formas, de acordo com a realidade de cada propriedade ou região. Melhorar a genética do rebanho, reformar ou intensificar o uso das pastagens, fazer a terminação em confinamentos próprios ou de terceiros, são algumas das maneiras de se ganhar escala. Na busca da melhor solução, a experiência na atividade pode fazer muita diferença.
Falar em ganho de escala nos remete a outro ponto polêmico: a concentração de mercado. Esta é uma tendência mundial para a maioria dos setores industriais, comerciais e produtivos, e a cadeia produtiva da carne bovina não está alheia a esta realidade. Este processo de concentração iniciou-se pela indústria frigorífica, mas ao que tudo indica, tende a se estender também aos demais elos da cadeia, inclusive o da produção.
Segundo Xico Graziano, agrônomo e ex-Secretário de Agricultura e do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, há a tendência, crescente no Brasil, de grandes empresas de capital aberto, controladas por fundos de investimentos, de origem externa ou interna, aplicarem seus recursos na atividade agropecuária. Tais grupos possuem recursos financeiros e, consequentemente, possibilidade de acesso à tecnologia, todavia “no mundo do agronegócio existem especificidades”, afirma Graziano.
Bens industriais fabricam-se a qualquer tempo, com custos padronizados e em ambientes controlados. No campo, a receita é mais complexa e incerta, em especial por tratar-se da produção de seres vivos (animais ou vegetais), e por depender das leis da natureza. Esta chamada concentração também pode se dar de diferentes formas, entre elas usando-se o secular trabalho das associações e cooperativas. Mais uma vez, a experiência pode contar muito.
Por fim, vale compilarmos tudo isso. A atividade pecuária do presente e do futuro deve ser pautada pela eficiência, uma vez que a margem por unidade daquilo que se produz (arroba, saca, etc.) tende a se reduzir ao longo do tempo. Para tanto, o conhecimento e a experiência no negócio são fatores fundamentais. Investir em genética, nutrição e manejo animal e vegetal é condição obrigatória, mas mais do que isso, é preciso saber planejar, executar, gerir e corrigir os rumos da operação. A atividade pecuária não é uma ciência exata, e somente dinheiro não garante resultado!
*André Locateli é zootecnista formado pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP/Pirassununga, com aperfeiçoamento em Qualidade Assegurada para a Carne Bovina pela FEA/Unicamp, e especialista em Gestão de Agronegócios pela Fundação Getúlio Vargas. Ocupa o cargo de gerente executivo da ACNB.
**Marcos Pertegato é zootecnista formado pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da UNESP/Jaboticabal. Ocupa o cargo de gerente técnico administrativo da ACNB.
Fonte:
Da Redação
Data:
25/06/2013 10:48
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